A Resistência a Mudanças


Ao iniciar um blog sobre “tecnologia educacional” (TecEd), é necessário confessar que se trata de uma missão um tanto ingrata, considerando que, no Brasil, a simples menção do termo provoca, simultaneamente, impressões favoráveis e desfavoráveis por parte dos educadores. Mais polêmico do que as diferenças entre as meta-teorias educacionais (comportamentalismo, cognitivismo, construtivismo¸ perenialismo, essencialismo, progressivismo, reconstrucionismo e o extenso grupo de subteorias como aprendizagem situada, significante, observacional e transformacional, entre outros) a TecEd atrai críticos inconformados com suas inevitáveis ligações com o comércio e a indústria (setores vinculados à produção de objetos para a TecEd) e suas constantes exigências de “mudanças” no processo ensino/aprendizagem.
Educadores (ou outros profissionais) engajados em questões de TecEd, cuja experiência prática demonstra que 1/5 dos professores de todas as etapas da hiearquia educacional são ávidos pela chegada de novos instrumentos destinados ao aumento da eficácia da aprendizagem de alunos, entusiasticamente querem ser os primeiros a poder experimentar com eles; um outro quinto reage com ódio e desprezo contra qualquer sugestão, referente a uma tecnologia que ameaça a obrigatoriedade de uma mudança em suas práticas profissionais. Finalmente, há três quintos que vacilam dependendo das tradições culturais e da qualidade de lideranças locais, mas que, eventualmente, acompanham a adoção da nova TecEd.
Assim, quem tiver a paciência de acompanhar este blog, abrindo-se às ideias às vezes propositalmente provocativas, e quiser se manifestar contra ou a favor quanto das novas constatações, honrará o responsável do blog e, talvez, ficará mais informado sobre os avanços da TecEd no processo de ensino/aprendizagem. Com certeza, um dos tópicos freqüentes no blog será da resistência às mudanças entre educadores e instituições educacionais no Brasil, porque constitui a principal causa do atraso no desempenho dos estudantes quando comparado com seus similares em outros países. Abominar a mudança de práticas de longa data não é uma atitude recente entre os seres humanos, embora algumas nações modernas tenham conseguido reduzir a obstinação contra o “novo”. Já no século dezesseis, um conhecido sábio italiano observou que, “…no tocante à introdução de mudanças”:


… deve ser lembrado que não há nada mais difícil para iniciar, mais perigoso para conduzir, ou mais incerto no seu sucesso, que assumir a liderança de uma nova ordem de coisas. Dessa forma, o inovador tem como inimigos todos aqueles que se saíram bem nas condições antigas, e como defensores mornos aqueles que poderiam se sair bem nas novas. Esse frescor surge em parte do medo dos opositores que têm as leis ao seu lado, e em parte da incredulidade dos homens que não acreditam prontamente em inovações, até que tenham uma longa experiência com elas. Assim, quando aqueles que são hostis têm oportunidade para atacar, eles o fazem como guerrilheiros, enquanto os outros o defendem mornamente… (Níccolo Machiavelli, O Príncipe, 1513)
A resistência a mudanças, vista de uma outra perspectiva, nos obriga a lembrar a útil categorização etária daqueles que confrontam novidades que surgem a sua volta, elaborada por Douglas Adams, autor do celebrado O Guia do Mochileiro das Galáxias:

Qualquer coisa que já estiver no mundo quando você nascer é normal e ordinária e simplesmente uma parte da maneira pela qual o mundo funciona. Qualquer coisa inventada no período em que você tem de quinze a trinta e cinco anos é nova, excitante e revolucionária, e provavelmente lhe oferece a oportunidade de seguir uma carreira nela. Qualquer coisa inventada depois que você chegou a trinta e cinco anos é contra a ordem natural das coisas.

Deve ficar evidente que o assunto TecEd tem todo o potencial para ser uma “batata quente” num espaço livre para a circulação de idéias, convicções e tentativas de persuadir os outros a aceitar as nossas visões. Desde que opiniões estejam acompanhadas de exemplos, fatos comprováveis e referências imbuídas de autoridade, esta conversa virtual será cada vez mais útil. Douglas Adams, mais uma vez, bem observa: “Todas as opiniões não são iguais. Algumas são bem mais robustas, sofisticadas e apoiadas em lógica e argumentos do que outras”.

Comentários